Os Senhores das Trevas
No fundo dos oceanos, a 4000 metros de profundidade, onde a luz do sol não chega e a temperatura média é de 2 graus, vivem umas espécies de peixes muito estranhas, com um aspecto bastante assustador para os olhos humanos. Esses peixes têm fascinado os cientistas. Conseguiram adaptar-se a viver sob uma enorme pressão. Imagina-te a viver debaixo de 4 mil kgs de água. No seu habitat o alimento escasseia e a reprodução é bastante difícil – no escuro é complicado encontrar um parceiro para acasalar. São os peixes abissais, formas de vida extremamente peculiares. Alguns tem boca e estômago capazes de engolir e digerir presas com o dobro do seu tamanho. Nas condições do que talvez seja o mais inóspito dos ambientes, por sinal o maior habitat do mundo, muitos desses peixes desenvolveram sistemas orgânicos destinados a iluminar as trevas e atrair as presas: possuem luzes no próprio corpo, que acendem e apagam como lanternas quando necessário.
Na vastidão dos oceanos, os peixes abissais não encontram fronteiras naturais a sua circulação. E espalharam-se dos trópicos até as regiões polares. Como não vivem em cardume, e normal que, ao encontrar uma companheira, um desses peixes não se arrisque a perde-la. Em certas espécies, o macho funde-se com a fêmea, passando a fazer parte do seu corpo. Transforma-se assim em pouco mais do que um fornecedor de espermatozóides.
Até meados do século passado, os cientistas negavam que existisse vida no mar abaixo dos 500 metros. A 2000 metros, a esmagadora pressão da água pode rebentar um cilindro de oxigénio, dos que os mergulhadores utilizam para mergulhar. Explorando os domínios marinhos mais profundos, as missões de pesquisa acabaram por descobrir, no entanto, que os obstáculos da pressão e da escuridão não são intransponíveis para certos peixes.
Hoje sabe-se que essa classe de vertebrados, a mais antiga que existe, vive em qualquer lugar onde haja água - dos tenebrosos abismos oceânicos até a superfície do mar aberto. Não existe limite de profundidade para a vida. Há peixes que nadam a 300 ou 400 metros, mas também mergulham em profundidades de 4000 metros ou mais ainda.